Fragmentos de Appelo V

“I believe that a ‘weekness’ of the Agile Manifesto is that it doesn´t (explicitly) recognize that all software projects need people being smart, disciplined, and attentive. The ‘people over process’ paradigm is great, until you find out that your team consists of two trolls, a parrot, and a hairdresser, and a reletively bright project manager, who happens to be deaf, blind, and mute. No amount of coaching can help a team like that to magically self-organize and to deliver a successful product.”

Jurgen Appelo em “Management 3.0”, pág. 196.

Grande abraço,

Marcelo Mello

Fragmentos de Taleb III

“Sendo uma criança que cresceu em meio à guerra civil, desconfio da aprendizagem estruturada – verdade seja dita, acredito que uma pessoa pode ser um intelectual sem que seja nerd, desde que tenha uma biblioteca particular em vez de frequentar uma sala de aula, e contanto que passe seu tempo como um flanador sem rumo (mas racional), beneficiando-se com o que a aleatoriedade é capaz de nos dar, dentro e fora da biblioteca. Desde que tenhamos o tipo certo de rigor, precisamos da aleatoriedade, da bagunça, das aventuras, da incerteza, da autodescoberta, de episódios quase traumáticos, todas essas coisas que fazem a vida valer a pena de ser vivida, em comparação com a vida estruturada, falsa e ineficaz de um diretor executivo metido a besta, com uma agenda predeterminada e um despertador. O próprio lazer deles acontece de forma cronometrada: partida de squash das quarto às cinco, pois sua vida é espremida entre um e outro compromisso. É como se a missão da modernidade fosse sugar até a última gota toda a variabilidade e a aleatoriedade da vida – com o irônico resultado de tornar o mundo muito mais imprevisível, como se as deusas do acaso quisessem ter a última palavra.”

Nassim Nicholas Taleb em “Anti-frágil”, págs. 280 e 281.

Fragmentos de Taleb II

“Considere a iatrogenia* dos jornais. Eles precisam preencher todos os dias suas páginas com uma série de notícias – em particular, notícias que também serão informadas por outros jornais. Mas, se fossem fazer o correto, eles deveriam aprender a não falar nada na ausência de notícias significativas. Em certos dias, os jornais deveriam ter apenas duas linhas de comprimento; em outros, duzentas páginas – em proporção à intensidade do sinal. Mas, é claro, eles querem ganhar dinheiro e precisam nos vender porcarias. E as porcarias são a iatrogenia.”

Nassim Nicholas Taleb em “Anti-frágil”, pág. 150.

* Iatrogenia é nome que se dá aos danos (geralmente ocultos ou demorados) decorrentes de um tratamento que sobrepujam os benefícios.

Marcelo Mello

Resenha do livro “Gestión Ontológica” de Ivonne Hidalgo

Minha primeira leitura de 2022 é, na verdade, uma releitura, um novo mergulho na obra daquela que foi minha Mestra e fonte de profunda inspiração ao longo dos últimos 12 anos. Sem dúvida, Ivonne Hidalgo Díaz deixou sua marca no mundo e no coração de muitas pessoas que tiveram o privilégio de ouvir seus seminários, ler seus textos e, principalmente, vivenciar sua sabedoria na convivência.

O livro “Gestión Ontológica”, o qual li pela primeira vez no contexto do meu Mestrado, é fruto da vasta experiência desta brilhante profissional venezuelana, mas principalmente de seu trabalho com Fernando Sáenz Ford e Elena Espinal na concepção e realização do Diplomado de Coaching em Contextos Organizacionais, do que tive a honra de participar ao longo dos anos de 2013 e 2014.

Ao longo de 140 páginas, Ivonne nos apresenta, de forma leve e muito clara, seu modelo de Gestão Ontológica, alicerçado em 5 pilares:

  • Gestão da Realidade;
  • Gestão das Possibilidades;
  • Gestão da Ação e Resultados;
  • Gestão das Relações; e
  • Gestão da Aprendizagem;

Cada um dos temas acima é explorado com muita maestria e associado às respectivas ferramentas e habilidades necessárias para seu adequado tratamento.

Há que de destacar ainda o ciclo de compromissos, abordado dentro do pilar da Ação e Resultados e a Escala de Aprendizagem (proposta originalmente por Fernando Flores) e que demonstra a jornada desde a Ignorância (Elefante na loja de cristais) até o nível da Maestria em um determinado domínio de conhecimento.

Por fim, apesar do livro ser, em essência, um chamamento de Ivonne para que os Coaches se lancem a “Jogos maiores”, buscando consolidar sua oferta no âmbito das organizações, ele trás insights muito poderosos e absolutamente pertinentes para líderes que almejam transformar a realidade de suas equipes, organizações e mercados em que atuam.

Marcelo Mello

P.S.: para conhecer um pouquinho mais sobre Ivonne Hidalgo, vejam este post.

Fragmentos de Scharmer III

“Estamos em um momento decisivo da história, no qual as externalidades negativas continuadas que geramos coletivamente não têm mais como ser absorvidas pelos nossos ecossistemas ecológicos, sociais e espirituais.

Estamos nos aproximando de um beco sem saída e vemos isso quando constatamos as crescentes disrupções que enfrentamos como uma sociedade global. A atualidade constitui um momento profundo do nosso caminho evolucionário: pode despertar e nos redirecionar ou podemos ignorar a realidade e nos manter em uma rota de colisão que provocará fracassos catastróficos que afetarão bilhões de pessoas já na presente geração.

É isso que está em risco quando consideramos a evolução da nossa economia e do nosso pensamento econômico.”

Otto Scharmer em “Liderar a partir do futuro que emerge”, págs. 149/150

Fragmentos de Scharmer II

Caros amigos,

impulsionado por uma mensagem que recebi há pouco do meu grande amigo e mestre Gentil Lucena sobre empreendedorismo social, compartilho com vocês 12 princípios e práticas relacionados à jornada de transformação pessoal e social, propostos por Otto Scharmer em seu livro “Liderar a partir do Futuro que Emerge” com base na sua já consagrada Teoria U. Muito mais do que um mero “check list”, cada uma das proposições de Scharmer contém a complexidade e a carga emocional compatíveis com a profundidade e importância das transformações a que ele se dedica e fomenta.

  1. Coloque o discurso em prática. Aplique o U colocando-o em prática em vez de se limitar a falar a respeito;
  2. Observe, observer, observe: transforme-se em um mestre da observação e da escuta. É grande o impacto dos níveis mais profundos de escuta: eles atuam como uma chama no processo de criação da realidade social, podendo derreter os muros da interação habitual que nos mantêm separados do mundo, uns dos outros e de nós mesmos;
  3. Seja um instrumento e conecte a sua intenção. “Quem sou eu?”, “Para que estou aqui?”, “Como posso vincular o meu trabalho com o meu Trabalho?”. Quanto mais pudermos nos conectar com esse lugar – com o que é essencial para nós – e quanto mais pudermos esclarecer a nossa missão, mais poderemos agir como um instrumento para concretizar esse futuro que emerge;
  4. Quando a fenda se abrir, fique com ela – conecte-se e aja a partir do agora. Quando você se vir começando a se conectar com uma oportunidade futura significativa, primeiro diga sim, depois faça e só então pergunte se é possível;
  5. Siga o seu coração – faça o que ama, ame o que faça. Essa é a única maneira confiável de nos conectar com o nosso caminho do futuro que emerge;
  6. Mantenha-se em diálogo constante com o universo. O universo – ou, em outras palavras, o contexto mais amplo que nos cerca – nos proporciona um feedback proveitoso;
  7. Crie um espaço acolhedor de escuta profunda que dê suporte à sua jornada. A ferramenta de liderança mais importante é o seu Eu – sua capacidade de acessar sua possibilidade futura mais elevada;
  8. Repita, repita, repita. Essa iteração é uma questão de praticar e nos adaptar ao que vemos emergindo;
  9. Observe a fenda que dá para o campo do futuro. Toda mudança ocorre em um contexto. Ela pode ser pessoal, relacional, institucional ou global. Atentar para a abertura de uma fenda requer explorar as margens do sistema e do eu;
  10. Use um vocabulário diferente para dialogar com diferentes stakeholders. Inovar em sistemas complexos requer que sejamos poliglotas, que nos conectemos com os vários stakeholders com base nas questões que mais importam para eles. Problemas complexos requerem soluções complexas;
  11. Se quiser mudar os outros (outros stakeholders), você precisa estar disposto a mudar a si mesmo primeiro. Se você precisa mudar o sistema, o maior alavancador que tem é a qualidade do seu relacionamento com os outros stackholders. É isso que você deve desenvolver e fortalecer, o que implica estar aberto a mudar a si mesmo primeiro.
  12. Jamais desista. Jamais desista. Você não está sozinho. Toda jornada profunda de inovação e renovação requer uma enorme perseverança. Ideias importantes muitas vezes levam muitos anos de fracassos – ou prática – antes de produzir algo concreto no mundo real. A chave é nunca desistir.

“A coragem se fundamenta na confiança de que não estamos sozinhos ou, em outras palavras, o coletivo sempre dá resultado.”

Abraços e vamos lá, transformar o mundo, um dia de cada vez!

Marcelo Mello

Fragmentos de Scharmer I

“Para superar os desafios da nossa era, precisamos mudar nossa mentalidade, tanto como indivíduos quanto como uma sociedade. As profundas mudanças que se fazem necessárias hoje requerem uma quebra do nosso paradigma de pensamento e uma alteração da nossa consciência. partindo da conscientização egossistêmica para a ecossistêmica. Quanto mais nos aprofundamos nos desafios complexos, voláteis e desestabilizadores do século XXI, mais essa dimensão oculta da liderança passa para o centro das atenções. O ponto cego da economia e da administração do século XXI pode ser resumido em uma única palavra: consciência.”

Otto Scharmer em “Liderar a partir do futuro que emerge”, pág. 73.

Abraço,

Marcelo Mello

Resenha do livro “O enigma de Espinosa” de Irvin D. Yalom

Baruch, Bento, Benedictus… são vários os nomes pelos quais podemos nos referir a Espinosa, de acordo com o idioma que se prefira adotar. Um dos principais nomes da filosofia moderna, suas ideias revolucionaram a forma de pensar da humanidade e influenciaram muitos outros filósofos e pensadores. Viveu uma vida curta e bastante modesta e isolada, resultado do choque que suas ideias causaram em uma sociedade supersticiosa e intolerante, contudo, certamente ele diria que as coisas foram como só poderiam ter sido.

O livro adota um estilo já característico do autor, empregado em outras obras suas, como “Quando Nietzsche chorou” e “A cura de Schopenhauer”, e que consiste em entremear uma história muito bem elaborada com as ideias e parte da vida do filósofo. No caso de Nietzsche, ele próprio é o protagonista do romance, apresentando diretamente suas ideias e reflexões. Já Schopenhauer e sua filosofia pessimista surgem como modelo e resposta propostos por um dos personagens da história para os problemas que emergem em sua vida e na vida daqueles que o cercam.

Em “O enigma de Espinosa”, Yalom alterna entre duas histórias, separadas no tempo e no espaço, mas que se cruzam pela força das ideias. De um lado, temos uma espécie de mini biografia romanceada de Espinosa, acompanhada de uma pequena parte de sua impactante filosofia. De outro, acompanhamos a evolução de um dos ícones do nazismo, o escritor e político alemão Alfred Ernst Rosenberg, conselheiro de Hitler e principal teórico das ideias antisemitas que fundamentaram o Holocausto.

Com muita habilidade e inteligência, Yalom nos brinda com uma narrativa rica e sedutora, explorando toda a inquietação que as ideias de Espinosa provocam em Rosenberg. Ao mesmo tempo, somos também impactados pelas diversas formas de manifestação do ódio e da ignorância ao longo da história. Não há dúvida de que a perseguição e o extermínio em massa de Judeus pelos Nazistas foi um dos maiores e mais horrendos crimes já cometidos na Humanidade, contudo, a excomunhão de Espinosa por parte de sua comunidade judaica não deixa de ter sua raiz na intolerância e na incapacidade de legitimar o outro, com suas ideias e modo de vida diferentes do considerado “correto” ou “melhor”.

“O Enigma de Espinosa” é um livro sensível e impactante sob vários aspectos. Além de uma sempre necessária lembrança do potencial terror dos regimes totalitários, ele também serve como uma belíssima introdução ao profundo e fundamental pensamento de Baruch Espinosa, ao qual vale a pena dedicarmos tempo e atenção, sobretudo se desejamos ampliar nossas possibilidades de compreensão e intervenção no mundo.

grande e fraterno abraço,

Marcelo Mello

Resenha do livro “O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido” de Philippa Perry

Esta obra, de título longo e pouco convencional, chegou até mim por meio do perfil da School of Life Brasil, a quem sigo no Instagram. Por conta do lançamento do livro, a autora, que também é psicoterapeuta há mais de 20 anos, realizou alguns seminários, promovidos pela instituição e divulgados em suas redes sociais.

Ao longo dos últimos anos, tenho trabalhado para aprimorar as competências para o exercício daquela que julgo ser a minha mais importante missão: a paternidade. Minha formação em Coaching Ontológico no Território Appana foi um movimento profundo e fundamental neste sentido e, desde então, tenho intensificado a busca por conteúdos e reflexões que me auxiliem a me tornar o pai que meus filhos merecem.

“Todos os pais querem acertar na educação dos filhos para que, essencialmente, eles sejam felizes. Apesar de óbvio, esse não é um objetivo simples.”

O texto de Philippa é instigante e, ao mesmo tempo, de uma simplicidade encantadora. A partir de suas experiências pessoais e profissionais ela apresenta aos leitores uma abordagem sobre a criação dos filhos totalmente focada na construção de relações saudáveis e verdadeiras. Ela argumenta que grande parte de nossos comportamentos como pais tem origem nas experiências que vivenciamos como filhos e nas rupturas que experienciamos em nossas relações com aqueles que nos criaram. Tais rupturas, segunda ela, se não forem adequadamente reparadas podem comprometer a qualidade de nossa relação com nossos filhos, gerando uma série de disfunções que, com frequência, vislumbramos no seio das famílias.

Além da questão do legado que recebemos de nossos pais, o livro aborda também o impacto do ambiente que proporcionamos às crianças, bem como a importância da inteligência emocional para a construção e manutenção de nossas relações. A autora trabalha o cultivo destas relações desde o período da gravidez, passando pelos desafios adaptativos a uma nova rotina com um bebê e às demandas por atenção e cuidado que vão, naturalmente, mudando, à medida que as crianças crescem.

Aspectos como comunicação, birras, limites, mentiras e a relação com filhos jovens e adultos são também objeto de consideração e análise por parte da autora, sempre de forma leve e serena, buscando oferecer alternativas de observação e ação que contribuam para solução dos conflitos e o fortalecimento dos vínculos entre pais e filhos.

Ao meu ver, trata-se de uma obra extremente útil e valiosa para aqueles que almejam exercer uma paternidade/maternidade mais consciente, construindo relações sólidas e, sobretudo, baseadas no amor e na confiança mútua com seus filhos. Me parece ser este um bom caminho para que nossas crianças possam crescer saudáveis e felizes em um mundo cada vez mais desafiador.

grande abraço,

Marcelo Mello, pai do Gabriel e da Maria Benedita.