Caros amigos,
como de praxe, venho compartilhar com vocês mais uma das várias leituras de que tenho usufruído ao longo de minha jornada de aprendizado (e #RumoAoFimDoMestrado). Trata-se de um dos capítulos do livro “Gestão da Mudança: Caos e complexidade nas Organizações“, de Ruben Bauer, o qual traz explicações bastante claras acerca da estrutura tradicional (e hoje ultrapassada) de nossas organizações. Transcrevo a seguir os trechos que julgo como mais significativos dentro deste excepcional texto:
A escola e a família, por exemplo, formam as pessoas em primeiro lugar para serem trabalhadores (produtores) bem com consumidores – e não para que vivam plenamente suas vidas, como sujeitos autônomos senhores de seus destinos (no sentido iluminista), nem para serem cidadãos (no sentido da filosofia grega clássica). O sentido da existência não se consuma na felicidade, pela fruição da vida com base em critérios subjetivos individuais – mas antes corresponde à qualidade da inserção individual no sistema produtivo (o que engloba desde salário e estabilidade no emprego até ‘satisfação’ e ‘qualidade de vida’ no trabalho), e ao conseqüente potencial para concretização dos desejos pessoais de consumo (que o Sistema cuida para que sejam ilimitados).
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Diante da instável realidade atual, toda a teoria pregressa das organizações chega ao esgotamento, o que nos põe diante de uma profunda quebra de paradigma: mais que classificarmos os ambientes como instáveis ou turbulentos, precisamos passar a assumir a idéia de que neles só é capaz de sobreviver uma empresa também instável ou turbulenta. Mais que considerarmos as “mudanças” que afetam a empresa, temos que legitimar a mudança, no singular, como realidade única, e superar a idéia de uma realidade sujeita a mudanças, no plural, mas que seria em essência estável.
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“Uma burocracia mecaniza as forma organizacionais tal qual o maquinário mecaniza a produção industrial, elevando à qualidade de fins em si fatores como eficiência, precisão, rapidez, clareza, confiabilidade e regularidade, e elegendo como meios para atingi-los a divisão e especificação rígida das tarefas, o controle pela supervisão hierárquica e o estabelecimento de regras e regulamentos detalhados.
Tal concepção correspondeu ao ideal weberiano de organizações funcionando como máquinas orientadas à minimização da incerteza. A palavra-chave explícita era, sem sombra de dúvida, eficiência, mas a palavra-chave implícita era equilíbrio – a permanência numa situação estável.
Ora, os enfoques mecanicistas da organização só podem funcionar bem em condições nas quais máquinas funcionem bem, por exemplo quando as mesmas tarefas precisam ser desempenhadas continuamente ou quando se produz apenas produtos padronizados. Uma empresa-máquina é projetada para atingir objetivos predefinidos, e por isso apresenta dificuldades de adaptação a mudanças no ambiente externo.
De uma máquina espera-se que seja eficiente, não que seja criativa ou inovadora diante do imprevisto. Em um mundo onde cada vez mais reinam a incerteza e a imprevisibilidade, as conseqüências de tamanha exaltação do ‘eficiente’ têm sido cada vez mais desastrosas.
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Nas palavras de Margaret J. Whetley:
“Tenho observado que a busca do equilíbrio organizacional é um caminho seguro para a morte institucional, uma estrada para o nada trafegada por pessoas cheias de medo (…) ao venerar o equilíbrio, ocultamos-nos dos processos que promovem a vida.”
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Aquilo que atualmente é praticado na qualidade de planejamento estratégico assume ser possível vincular causas e efeitos específicos ou, em outras palavras, ações a resultados específicos. As empresas são, dessa forma, percebidas como sistemas nos quais um agente externo (um consultor) ou um agente interno privilegiado (o líder) está apto a adotar escolhas e a tomar decisões que direcionem o futuro da organização, para então requerer dos demais que sigam esses planos.
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Mas o mais significativo é notar que tal ênfase na causalidade linear tem raízes na visão científica clássica, hoje superada. Tudo aquilo que os dirigentes das organizações ainda pensam tratar-se de ‘administração científica’ na verdade decorre de uma concepção de ciência que poucos cientistas contemporâneos ainda defenderiam. Tal e qual os cientistas anteriormente à teoria do caos, os gerentes ainda acreditam poder compreender as relações de causa-e-efeito que governam o comportamento de suas organizações, quando na verdade tais relações são de uma complexidade imensa. Nas palavras de Peter Senge,
“a percepção de que alguém ‘lá em cima’ está no controle é baseado numa ilusão – a ilusão de que alguém possa dominar a dinâmica e detalhada complexidade de uma organização a partir do topo da hierarquia.”
Amigos, diante da preciosidade e completude das palavras de Ruben Bauer, só me resta calar.
abraços,
Marcelo Mello